sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Orgulho e insensibilidade nas relações humanas


Apresentarei algumas situações para que compreendam minha inquietação contra tão irracional e insensível bloqueio presente em inúmeras mentalidades medíocres. Eu já acumulava meses em quais não escrevia nenhuma reflexão para este blog, pois, no referido período, empreendi uma conduta ― tal qual mantenho ― de uma visão mais positiva perante a vida e, portanto, pretendia postar um texto motivador ― em qual já penso há relevante tempo. Infelizmente, apesar de tão bela ser a vida, a realidade, pelo contrário, nos decepciona ― ainda quando tentamos fingir o oposto. Deste modo, fui impelido, forçado a expor a podridão deste contexto interior de muitas pessoas, afetando exteriormente ainda mais outras. Pelo mesmo motivo, adiarei a transmissão da esperança em troca pela exposição do inaceitável.

Enfim, vamos às situações hipotéticas, cada qual com uma simplicidade característica para efeito de direto entendimento:

__1. Lucas e Carlos não se gostam nem se desgostam; digamos que são apenas colegas de trabalho, arquitetos. Lucas apresentou uma planta inquestionavelmente ― atente-se a esta palavra: “inquestionavelmente” ― excepcional. Evidentemente, Carlos elogiou seu projeto.
__2. Suponhamos que, em semelhantes condições, eles não são simplesmente colegas: são amigos de longa data. Então, pela amizade e pela impecabilidade do projeto, Carlos elogiou Lucas.
__3. Agora, Lucas e Carlos se desgostam, logo, não são amigos. Para esta situação, temos duas reações em Carlos:

____a. Por rivalidade, inimizade, antipatia, inveja... Enfim, por orgulho, irá debochar, desmerecer ou desprezar o projeto de Lucas.
____b. Mesmo não gostando de Lucas, reconhecerá a inquestionável excelência da planta, elogiando o colega de trabalho.

Percebemos que, nas quatro situações, somente uma demonstrou desprezo, isto é, o exemplo 3-a. Todavia, neste caso, o orgulho até é aceitável ― atente-se ao “até” ―, uma vez que havia determinada antipatia na relação. Contudo, é a quinta situação [exemplo 4] que me revolta imensuravelmente, tal qual parece inexplicável:

__4. Ambos são muito amigos ― assim como no exemplo 2 ―, porém, Carlos debocha do trabalho de Lucas. Entretanto, há uma ressalva: não é deboche de intimidade na amizade; é deboche por desprezo.

Nesse momento, dê-me uma só explicação para tal deboche! Qual é a razão disso? Há duas alternativas apenas:

__a. Lucas pensava que Carlos era seu amigo, mas, na verdade, não o era.
__b. Carlos é orgulhoso.

Consegue enxergar como o orgulho é terrível, capaz até de destruir uma amizade? Por outro lado, se a mesma é tão longa, aquele simples desprezo pode ser perdoado. No entanto, imagine que, em toda a trajetória de amizade, esta ocorrência se repetia diariamente. Ou, não apenas na totalidade dos dias, mas com uma frequência ainda mais abusiva: em cada diálogo. Vamos, mais ainda, expandir o problema: mentalize um casal em correspondentes condições. Ou melhor, ousemos ir além: pense num marido que nunca fez um só elogio à sua esposa; uma mulher que jamais agradeceu a seu companheiro por favores feitos; um homem que, em nenhuma circunstância, foi capaz de pedir perdão a alguém... Por que machucamos aqueles a quem mais amamos? Agora, generalize a questão para a sociedade...

Mesmo que exista misericórdia ― e eu não desconfio que assim seja; até pela minha própria experiência de vida ―, quantas vezes os Lucas serão desgastados, desmoralizados, desprezados pelos Carlos? Até quando a paciência de Lucas persistirá? Até quando haverá perdão nessa amizade? Quantos Carlos insistirão, ainda, na opressão aos Lucas? Quão avassaladora pode ser a destruição deixada pelos incessantes Carlos? Para onde está indo nossa humanidade?