terça-feira, 2 de maio de 2017

Impossibilidade Conclusiva


Não precisamos de muito desenvolvimento lógico para perceber que tal asserção acima é, por si só, incoerente e, de certo modo, inconclusiva. Ou seja, esta frase é logicamente impossível.

Embora seja de fato incoerente, a impossibilidade de se concluir qualquer coisa não é apenas muito frequente em nossa vivência, como é justamente a maneira como nossa mente se move. Ou seja, é justamente por nunca conseguirmos concluir algo que conseguimos perpetuar o pensar. Em outras palavras, não concluir é o motor indispensável para sempre pensarmos.

Se, por acaso, conseguíssemos concluir todos os nossos pensamentos, por qual razão continuaríamos a pensar? Se alcançamos o êxtase absoluto, por que buscar novas formas de prazer? Se alcançamos todas as respostas, por que continuar a responder? Isto é, para que questionar caso todos os questionamentos já apresentassem soluções completas? No mínimo, não é isso o que vivemos. Vivemos mais ausência de respostas e multiplicidade de questões do que abundância daquelas e simplicidade destas.

Veja bem: sempre que concluímos qualquer pensamento, abdicamo-nos de algum contraponto. Há sempre algo que não foi considerado ― ou porque esquecemos, ou porque desconhecemos. Não há como abordar tudo o que já pensamos e tentamos compreender num só pensamento compreensível. Talvez por uma limitação humana, talvez por uma limitação epistêmica ou até mesmo por uma limitação metafísica... Não sei. Fazer uma metapergunta do ato de perguntar é tarefa um tanto árdua e, certamente, inconclusível. Todavia, fazer metaconclusão da conclusão não é tão distante quanto parece.

Se pressupormos que concluir é, em si, uma síntese (um enxugamento do todo compreendido), não é absurdo concluir que é impossível concluir. Ora, concluir é resumir tudo que foi problematizado anteriormente, seja num texto, seja num pensamento. Para resumir, é necessário cortar e todo corte torna algo descartável.

Peguemos o exemplo do texto. Ao escrever um texto ― assim acontece comigo e, supostamente, contigo também ―, pensamos em inúmeras palavras, organizamo-nas de diversas maneiras distintas e buscamos a forma mais “agradável” e “coerente” de pô-las no papel. Ou seja, ao longo do percurso, selecionamos palavras e descartamos muitas outras; selecionamos pensamentos e abandonamos muitos outros. Logo, o pôr no papel seria concluir e a seleção de palavras e pensamentos seria as premissas que foram postuladas.

É impossível, a partir de nossa mentalidade finita ― e, consequentemente, uma lógica também finita ―, abordar todas as premissas possíveis para uma conclusão perfeitamente concluída. Em toda conclusão, algo permanece inconcluído. Logo, tudo é conclusível, mas nada é concluído. Se tudo fosse concluído, não restaria conteúdo para uma futura conclusão. Portanto, para se concluir, para ser conclusível, é necessário e inevitável que sempre falte algo na conclusão, de tal modo que o movimento conclusivo (o movimento do pensar) se mantenha sempre movente, em constante e ininterrupto metamovimento.

Perdoe-me a redundância, mas é necessária para compreendermos: para que um movimento seja movimento, ele necessariamente precisa ser movente, mutável, flúido, constante, perpétuo, ininterrupto. Da mesma forma, a conclusão, para se manter conclusível, necessita se manter inconcluída. E, por fim, concluo que é impossível concluir.