segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Um texto e uma vida sem conclusão

Há vinte anos atrás, eu nasci. Fui crescendo e aprendendo a viver. Quantas formas de vida me foram empurradas? Quantos desejos me foram vendidos? Quantos sonhos, quantas mentiras... Assim como eu, tenho certeza que todas as pessoas nascem sem nada saber da existência. Nascem sem conhecer seus propósitos, sua missão ou seu lugar neste mundo ― se é que nascemos com algum. Todos nós nascemos vazios e passamos o resto da vida buscando preencher o que nem sabemos e, mesmo assim, insistimos em fingir saber das coisas. Conversamos como se soubéssemos o significado e a origem das palavras que usamos. Compartilhamos, curtimos e comentamos como se houvesse algum propósito nisso. Damos opiniões, avaliamos as atitudes dos outros, julgamos escolhas... Opinamos e fingimos ter certeza das coisas, presunçosamente convictos de que isso irá mudar o rumo do mundo. Elegemos candidatos que mal conhecemos. Lemos matérias e notícias suspeitosas. Passamos mais da metade da vida forçando nossos olhos, multilando nossa sanidade para absorver conteúdos que, logo mais, nos trairão ― isso se chama conhecimento. Compramos ― literalmente compramos ― mentiras. “O que você será no futuro?” ― aí reside a mais desumana fraude vendida a uma criança.

Pior do que vender falsos sonhos e conquistas vazias, é vendê-los com orgulho. E, claro, pôr no orgulho a veste de educação, para manter o ego intacto. Essa é a sociedade, assim é a humanidade: (1) seres humanos nascem sem nada saber; (2) vendem o não-saber para você; (3) você obviamente fracassa tentando praticar o que não sabe; (4) por fim, lhe culpam pelo fracasso. Fracassados, culpados e sem propósito, corremos atrás de preenchimentos vazios ― como religião, drogas e sexo. Pronto. Já entramos no ciclo vicioso da história da humanidade: comprar mentiras [formas de existir] e lançá-las ao combate para ver qual é mais convincente.