terça-feira, 12 de novembro de 2019

A Imposição da Revivência

Se não me engano, apenas um contrato importante (RioCard da Vanguarda) joguei fora. Os demais eram contratos diários dispensáveis. E caso algo importante tenha sido descartado, devo lembrar que atividades, jornadas e recompensas é o que não falta em Destiny 2. Preciso aprender a lidar com a perda/frustração/imperfectibilidade com leveza e naturalidade. É normal e está tudo bem não captar a totalidade fenomenológica (detalhes e experiências) dentro de um game, ainda mais se tratando de Destiny. Reflita com leveza e carinho.

Do sentimento de não suficientemente ter absorvido o conteúdo oferecido (que modestamente chamamos de aproveitar/experienciar um jogo, filme ou série), vem o sentimento de culpa, do qual suscita a necessidade de criar uma nova conta, zerar novamente ou reassistir/reler diálogos, clipes e cutscenes. E tal culpa insistirá em fisgar a consciência até que a revivência do que já foi vivido seja imposta (reciclagem fenomênica). E em meio a relutância, o caótico ciclo do desespero se instaura.

Como evitar tal ciclo? Como lidar com a fisgada da culpa? Há o que se culpar?

A culpa vem de um sentimento de desconformidade. O sentimento de que eu não estava agindo da maneira certa. No caso, não aproveitando quanto deveria ou não prestando a atenção necessária. O sentimento de que eu estava desperdiçando, o medo de perder farelos, a sufocante necessidade de absorver totalidades.

Cabe ressaltar que está longe de constituir uma necessidade e, sim, mais próximo a uma irracional obrigação à qual sempre me imponho. Vale a pena se obrigar a algo que, se não beira o impossível, ao menos exigiria forças além do meu confortável/saudável alcance? E quando, por razões tanto óbvias, não cumpro (correspondo ao exigido), é justo me culpar?

terça-feira, 28 de maio de 2019

Pessimismo e Otimismo: ilusões da inércia

Ultimamente, lendo alguns trechos de cartas pessoais de Freud, realmente me admirava acompanhar a mordacidade de seu pessimismo. Dava prazer de ler palavras tão vivas, tão carregadas de experiência, poucas palavras que socavam o estômago dos desavisados e refletia a vida daqueles que já perderam a confiança no futuro.

Já C. S. Lewis? Até pouco tempo eu o tinha como um bonachão. Deixou-se seduzir por Deus e logo começou a ver cor em tudo. E é comum considerarmos as formas coloridas o caminho mais fácil. Até que também tive a oportunidade de ler trechos de cartas da sua juventude 
— época em qual ainda era ateu. Impressionou-me notar nas palavras do jovem Lewis o mesmo peso existencial trágico dos socos de Freud. Ressalto, ainda, que, mesmo nas cartas mais íntimas, nossos paradoxos internos e os sentimentos mais profundos e distantes se mantêm fugazes. É muito difícil entender o que sentimos e, mais ainda, expressá-lo sem contradições.

Ler trechos da fase pessimista desses grandes autores e pensadores me fez lembrar este blog. Um adolescente mimado de ensino médio chorando em pesadas palavras por um mundo cruel e injusto. Quer escrever bem? Quer fazer um texto foda? Seja pessimista. Os autores que mais nos impactam são justamente aqueles que sabem fazer tragédias desesperadoras de suas próprias palavras. Pensei em citar alguns filósofos, mas a maioria dos Modernos e Contemporâneos compartilham do mesmo hábito literário: o drama existencial. Tudo isso me fez notar que o pessimismo é tão ilusório quanto colorir o mundo de boas crenças e que, sendo pessimista, pensando positivo, ignorando suas dores mais profundas ou colocando tamanho peso existencial em cada experiência, de qualquer modo, chorar pela realidade não faz dela menos trágica nem menos suportável. O pessimismo ou o otimismo são igualmente alienantes, rotas mais fáceis que nos confortam na dor. Difícil mesmo é encarar a realidade, manter-se erguido, acreditar e fazer alguma coisa para mudar.