domingo, 10 de dezembro de 2017

Cultos e Burros

Por que os cultos nunca querem discutir sobre aquilo que muito sabem? Será medo de descobrir que não se sabe? Será orgulho a não perceber que o que tanto se sabe se forçou saber?

De qualquer modo, os cultos querem negar sua própria natureza: o ser humano nasce burro e morre não tão diferente disso. Aliás, o burro é um animal que não se preocupa com o saber e, portanto, não precisa fingir que sabe. Ele também não se frustra quando a realidade não condiz com suas especulações pessoais disfarçadas de conhecimento. Muito menos sente a necessidade de impor seu modo de pensar ao pasto diante da incapacidade de aceitar que talvez o erro seja seu e não do pasto.

Nesse sentido, o burro é muito mais tolerante e maduro do que muitos militantes de esquerda e de direita, cultos e intelectuais.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Sexualidade e Castidade

1. Ao longo do tempo, tenho observado que o amor é a centralidade das nossas ações. Deus é amor e, por Sua própria vontade, convida-nos a amar a todo instante.

2. Sexualidade entendo por "motor psíquico" que conduz todas as nossas relações: amizade, matrimônio, sacerdócio, professor-aluno... É um termo complexo em Psicologia e ainda mais impalatável a alunos cristãos ― como eu, cristão cético e teimoso aluno.

Quando conduzimos nossa sexualidade apenas pela moral (“obediência”), isso gera problemas. Quando a conduzimos apenas pelos impulsos (“desejos carnais”), isso também gera problemas. Logo, entre a moral e os impulsos, nós (seres de alma e corpo) devemos pôr o AMOR como condutor de nossa sexualidade e das nossas ações.

Exemplo: não devo cultivar castidade apenas por obediência (ou por questões morais) tampouco me render aos impulsos carnais. É por amor que devo caminhar! Por amor a Deus, por amor a mim mesmo e por amor ao próximo que devo ser casto.

Fico com o pé atrás de quem tem muita moral e pouco amor. Já fui alguém que compulsivamente “moralizava” tudo. Com o tempo, percebi que “o amor é o pleno cumprimento da Lei” (Romanos 13, 8-14. Bíblia Sagrada). Vejo muitos padres, pastores e teólogos que tem o discurso carregado de palavras moralmente impecáveis e pessoalmente insensíveis. E pregar a verdade sem amor também é pecado. É aí que notamos alguns raros missionários que conseguem sensibilizar suas palavras com maior proximidade aos fiéis.

Se bem percebermos, Cristo pregava a Boa Nova fitando os olhos de seus ouvintes. O que isso quer dizer? Que Cristo era sensível e falava de perto. Posso estar muito enganado, mas sinto que muitos padres e pastores falam de Cristo com enorme distância. Moralmente impecável, pessoalmente distante.


Portanto, ver a sexualidade pela ótica da moral é observá-la de longe. Ver a sexualidade pela ótica carnal é rebaixá-la. Sinceramente tenho poucas respostas e pouquíssimas certezas sobre a sexualidade, porém intuo que deve ser analisada na vivência, mais de perto, com amor.


Recomendação de leitura:
Os padres e a sexualidade na visão de um Psicoterapeuta
http://www.vidapastoral.com.br/artigos/ministerio-presbiteral/os-padres-e-a-sexualidade-na-visao-de-um-psicoterapeuta/

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Ser humano é ser negligente

Continuo com minha posição de que conclusões são impossíveis. E com esta posição, infelizmente, refuto também a lógica. Mesmo refutando-a, continuo crendo na causalidade.

Enfim, sei que está cedo demais para “concluir” posições. Infelizmente, questionar a conclusão também me faz questionar Deus.

Questiono, ainda, se há permanência na personalidade e se de fato escolhemos agir. De certo modo, não escolhi pensar em tais questionamentos tampouco escolhi possuir a capacidade de questionar qualquer coisa.

O único problema é que questionar tais pontos me impede de dormir. Por mais que eu pesquise e pesquise todos os dias de distintas formas em distintas fontes, nunca encontro respostas.

E me parece que sempre ao dormimos optamos por desistir das questões. E como dormir é natural, parece-me que também é natural fingir que encontramos respostas apenas para nos sentirmos psicologicamente mais confortáveis. Portanto, é a negligência que nos move. E, desculpe a sinceridade: o que mais observo no mundo e em toda a História é negligência.

Por fim, você pode ter se ofendido com a última frase ou achar que sou louco, mas, de certo modo, ser humano é ser negligente. Também, você não precisa concordar comigo, até porque nem eu sei se concordo com as palavras deste texto.

sábado, 24 de junho de 2017

Niilismo Mereológico

Atomistas afirmam: “só existem átomos metafísicos.” Todo arranjo destes átomos é apenas reorganização mental. Portanto, não existem composições nem arranjos.

Você (que é um ser-humano, um conjunto de células, um conjunto de moléculas, um conjunto de átomos) não existe.

Então, pergunto-lhe: você realmente não existe? O que são seus pensamentos? Arranjos atômicos?

Não, pensamentos não existem. O que existem são rearranjos elétricos de partículas subatômicas nos neurônios ou, mais fundamentalmente, apenas rearranjos de átomos metafísicos.

O que são átomos metafísicos? As partículas mais fundamentais da realidade e somente estas existem.

Ainda assim, repito: seus pensamentos não existem? Se existem, existem numa subcategoria ontológica menos fundamental. Portanto, meu pensamento existe em certo grau de existência, mas não existe no grau (ou categoria) mais fundamental.

Em suma, não existimos.

terça-feira, 2 de maio de 2017

Impossibilidade Conclusiva


Não precisamos de muito desenvolvimento lógico para perceber que tal asserção acima é, por si só, incoerente e, de certo modo, inconclusiva. Ou seja, esta frase é logicamente impossível.

Embora seja de fato incoerente, a impossibilidade de se concluir qualquer coisa não é apenas muito frequente em nossa vivência, como é justamente a maneira como nossa mente se move. Ou seja, é justamente por nunca conseguirmos concluir algo que conseguimos perpetuar o pensar. Em outras palavras, não concluir é o motor indispensável para sempre pensarmos.

Se, por acaso, conseguíssemos concluir todos os nossos pensamentos, por qual razão continuaríamos a pensar? Se alcançamos o êxtase absoluto, por que buscar novas formas de prazer? Se alcançamos todas as respostas, por que continuar a responder? Isto é, para que questionar caso todos os questionamentos já apresentassem soluções completas? No mínimo, não é isso o que vivemos. Vivemos mais ausência de respostas e multiplicidade de questões do que abundância daquelas e simplicidade destas.

Veja bem: sempre que concluímos qualquer pensamento, abdicamo-nos de algum contraponto. Há sempre algo que não foi considerado ― ou porque esquecemos, ou porque desconhecemos. Não há como abordar tudo o que já pensamos e tentamos compreender num só pensamento compreensível. Talvez por uma limitação humana, talvez por uma limitação epistêmica ou até mesmo por uma limitação metafísica... Não sei. Fazer uma metapergunta do ato de perguntar é tarefa um tanto árdua e, certamente, inconclusível. Todavia, fazer metaconclusão da conclusão não é tão distante quanto parece.

Se pressupormos que concluir é, em si, uma síntese (um enxugamento do todo compreendido), não é absurdo concluir que é impossível concluir. Ora, concluir é resumir tudo que foi problematizado anteriormente, seja num texto, seja num pensamento. Para resumir, é necessário cortar e todo corte torna algo descartável.

Peguemos o exemplo do texto. Ao escrever um texto ― assim acontece comigo e, supostamente, contigo também ―, pensamos em inúmeras palavras, organizamo-nas de diversas maneiras distintas e buscamos a forma mais “agradável” e “coerente” de pô-las no papel. Ou seja, ao longo do percurso, selecionamos palavras e descartamos muitas outras; selecionamos pensamentos e abandonamos muitos outros. Logo, o pôr no papel seria concluir e a seleção de palavras e pensamentos seria as premissas que foram postuladas.

É impossível, a partir de nossa mentalidade finita ― e, consequentemente, uma lógica também finita ―, abordar todas as premissas possíveis para uma conclusão perfeitamente concluída. Em toda conclusão, algo permanece inconcluído. Logo, tudo é conclusível, mas nada é concluído. Se tudo fosse concluído, não restaria conteúdo para uma futura conclusão. Portanto, para se concluir, para ser conclusível, é necessário e inevitável que sempre falte algo na conclusão, de tal modo que o movimento conclusivo (o movimento do pensar) se mantenha sempre movente, em constante e ininterrupto metamovimento.

Perdoe-me a redundância, mas é necessária para compreendermos: para que um movimento seja movimento, ele necessariamente precisa ser movente, mutável, flúido, constante, perpétuo, ininterrupto. Da mesma forma, a conclusão, para se manter conclusível, necessita se manter inconcluída. E, por fim, concluo que é impossível concluir.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Arrogância e Sabedoria

Por que, em enorme frequência, conhecimento e apropriação de opinião amplamente aceita geram arrogância? Será que saber mais lhe torna superior àquele que sabe menos? E se de fato lhe tornasse superior, isso lhe daria “direito” de desdenhá-lo?

Daí podemos distinguir conhecimento de sabedoria. Assim como Sócrates, Cristo e Gandhi, o sábio tem a maturidade de dialogar de igual para igual (respeitando a dignidade do interlocutor, a qual independe de sua ignorância ou sapiência), sem ter de recorrer à arrogância (ou ao ego de superioridade) para transmitir (ou, neste caso, impor) seu conhecimento.

Busquemos “saber” menos e respeitar mais.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Confusão, Opinião e Imobilidade

Desde quando o direito à liberdade de pensamento e expressão lhe dá capacidade de opinar?

Há uma confusão ― grave e amplamente aceita e reproduzida ― entre preferência [pensamento particular restrito à emoção] e opinião [noção de verdade, ao menos, razoavelmente fundamentada]. Não há problema na ocorrência da confusão, pois afinal: quem de nós possui impulsos ordenados?

Todavia, o problema surge quando a consciência não se dá conta de que a confusão é uma confusão. Isto é, a confusão se reproduz de tal forma na carência de consciência que passa a se mostrar como fenômeno comum ― negligência essa que comodamente não estabelece critérios tampouco questiona a formulação dos próprios pensamentos ou a “importação” de pensamentos externos. Desse modo, comumente, também, preferência e opinião se mostram como sinônimos.

Não é à toa que a falta de consenso nas discussões políticas brasileiras imobiliza transformações sociais realmente efetivas. Enquanto ainda partimos de emotividade ― camuflada de autoafirmação ― para “reivindicar” direitos ao meu grupo e não a todos os grupos, sem dúvida, nossa sociedade permanecerá imóvel no caos.

E ainda, parece-me que quem mais pensa buscar a superação deste caos mais confortável se sente na permanência do mesmo, no simultâneo passo em que a própria atitude de “mudanças” inabilita as mesmas.